Atualizado: 11 de dez. de 2021

Ilustração: Ismael Mamedes da Cruz, 25 anos, artista de Belo Horizonte, autista.
Numa linda cidade
Entre montanhas e mar
Morava um Ogro arrogante
Que mandava no lugar
Era gordo e desalmado
Comia tudo que via
Arrotava inteligência
Porém, nada sabia
Nasceu em berço dourado
Herdou terras e riqueza
Mas vendeu tudo que tinha
Por preguiça e avareza
Restou um manguezal
Onde a Garça já vivia
Com Saracura e Uçá
Guará, Socó e Cutia
O Ogro passou o trator
Fez um bairro no lugar
Expulsou aves e bichos
Matou todo o habitat
Com o crime ambiental
Ganhou fortuna de novo
Vendendo lote na lama
Enganou Deus e o povo
De um velho carroceiro
Pegou cavalo e burro
Na orelha um carrapato
Anunciou num sussurro:
“Deixa esse Ogro comigo
Não gosto de explorador
A vingança será maligna
Vou destruir o opressor”
Convocou a bicharada
Falou com convicção
Para salvar a natureza
Precisamos de união
O debate ia animado
Quando o Ogro apareceu
Catou siri e caranguejo
E ali mesmo os ferveu
O Carrapato Estrela
Ficou muito indignado
Mordeu a perna do Ogro
A barriga e o outro lado
O Ogro sentiu a coceira
Mas nem banho tomou
Foi para a cama bem sujo
Tão cheio que desmaiou
Acordou após dois dias
Sentindo febre e arrepio
Passava horas no trono
Com diarreia e calafrio
Pensou que era Dengue
Covid e coisa e tal
Teve medo da doença
Foi correndo ao hospital
Lá o quadro piorou
Pés e mãos ficaram rosa
Teve delírio, entrou em coma
Era a Febre Maculosa
Depois de uma semana
A doença matou o gigante
O povo fingiu tristeza
Os bichos seguiram adiante
Na grande cadeia da vida
Onde tudo está ligado
O Ogro sendo egoísta
Era um elo enferrujado
Fim