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Esses moços! pobres moços?

Tento me colocar no papel de um homem nos dias atuais. E sem nenhum machismo ou misoginia, acho que eles estão passando por grandes dificuldades. Que mulheres são essas do século 21? O que elas querem? Como abordá-las? Não está sendo fácil para eles, eu imagino, porque tudo que aprenderam sobre conquista, poder e força, desmorona. Na tentativa de manter os postos de macho-alfa num mundo onde a mulher ocupa cada vez mais espaço, repetem o “modus operandi” de séculos: pirraça, traição, violência. É inacreditável que nos dias atuais ainda haja tanto estupro e assassinato de mulheres. Há um crescente descompasso entre o que a mulher deseja do homem e o que ele está disposto a oferecer, em praticamente todas as faixas etárias.

Outro dia, na praia, três amigas lindas e ainda jovens (35, 45 e 55 anos de idade) comentavam sobre suas últimas desventuras amorosas. A primeira entrou no “Tinder”, um site de relacionamento que mostra pessoas afins num raio de 100 km. Encontrou um cara na cidade vizinha, e depois de muita conversa virtual, foi convidada a passar um fim de semana num hostel que ele tem num lugar privilegiado. Ela enfrentou duas horas de estrada para conhecer o cara, e chegou bem na hora que ele preparava um café desses bacanas, de capsulas poluentes que só os ecologistas dispensam.

Ficou babando de vontade de tomar um cafezinho, mas ele sorveu a bebida sozinho, sem muitas palavras de acolhimento ou simpatia. Depois deu a chave de um dos quartos para ela e sumiu. Ela ficou uma noite, divertiu-se com os demais hóspedes e foi embora no dia seguinte, indignada com o ex-futuro namorado. Não por ter sido rejeitada, por ter pagado a estadia ou pela decepção com a frieza da recepção. O que a intrigou foi a indelicadeza do rapaz. “Tomar café na frente de uma pessoa e não oferecer? Isso não existe! É educação básica. O que ele quis mostrar com a atitude? Que eu não valho nem um cafezinho”?

- Grossura mesmo, ausência de cavalheirismo, falta de percepção, diz peremptoriamente a segunda amiga, uma estrangeira que vive no Brasil há bastante tempo. Ela anda tão decepcionada com os “macho man” brasileiros e latinos de um modo geral que já considera a hipótese de namorar mulher. “Preciso de um visto de permanência no Brasil e só casando para obtê-lo. Mas como casar com uns trogloditas desses? Não quero um casamento de fachada, quero uma relação de verdade, com carinho, respeito, ajuda mutua. Mas não dou sorte”, diz a moça. Ela tem um rosário de histórias com final infeliz para contar, a maioria de homens que se aproveitam da necessidade real que ela tem de casar para abusar da boa situação financeira dela.

A última decepção veio de um cara tão absurdamente incapaz de perceber a alma feminina que, ao ver a casa dela cheia de cachorros e gatos (ela tem verdadeira adoração por animais e os cata na rua, alimenta, medica e acolhe até encontrar quem os queira adotar) interpretou que ela fazia sexo com os bichos. Insinuou-se de forma obcena, e ao ser rechaçado, começou a fulminá-la com vídeos pornôs relacionados à prática da zoofilia e propostas de sexo grupal e outras bizarrices. Depois desse, ela está quase desistindo dos homens. Apesar de desejar muito ser mãe. E de não querer ser mãe solteira, por achar que se bichos precisam de amor, crianças precisam muito mais.

”Como eu gostaria de encontrar alguém com a energia sexual dos latinos e a delicadeza dos europeus” suspira! “Só você”? Responde a mais velha. “Eu já perdi as esperanças. Além de os homens brasileiros só gostarem de mulheres jovens – deve ser insegurança, só pode! – a minha última tentativa de relacionamento quase me matou de fome”, disse. “Como assim?” perguntaram as duas. “Você ficou sem café e eu fiquei sem jantar”, respondeu. “Há algum tempo, estava aqui na praia e fui abordada por um cara de uns 65 anos, com aquele corpinho de batata enfiada em palitos. Fez três perguntas sobre mim e abriu um falatório sem ponto nem vírgula, sobre a sua nada agradável vida: desquitado, abandonado pelos filhos, injustiçado no trabalho, um chato deprimido”. O que tinha de atrativo? Nada, além de garantir que cozinhava bem.

Foi a isca usada para tentar conquistá-la. Convidou-a para jantar e ela aceitou. Queria comer e aprofundar a abordagem (podia dar namoro ou amizade, tinha de conferir, afinal ninguém a cantava desde que passou dos 50). Ele abriu a porta e já tentou agarrá-la. “Empurrei-o delicadamente para a cozinha, deixando claro que o encontro não seria sexual. Ele perdeu o rebolado, mas fez uma comida realmente deliciosa. Comecei a comer um pouquinho de cada coisa, separadamente e, quando fui repetir, ele guardou tudo em potinhos de plástico e lavou a louça, numa atitude tão mesquinha quanto à do cara do cafezinho”!

- Ah, não, essa foi demais! E aí, o que você fez? “Terminei de tomar o vinho que EU levei e fui matar a fome na casa de um amigo gay, que resumiu a atitude do cara com uma só palavra: Vingança. Ele disse que homem quando chama uma mulher para jantar, ainda mais na casa dele, deixa implícito que quer é transar. “Claro, você descumpriu com o combinado”, disseram as duas, rolando de rir. “Descumpri o caralho”, disse a outra, “fui lá de propósito, com a intenção de não fazer sexo, mas de comer, conversar e ver qual era a do cara. E a dele era a mesma de todos. Um babaca”!

A partir daí a conversa tomou um tom de revolta. “Os homens não evoluíram uma vírgula. Estão se achando, mas cada dia se tornam mais desagradáveis, inúteis, dispensáveis. Tá na hora de eles fazerem a revolução deles, entenderem que um mundo melhor só é possível com homens e mulheres em igualdade de condições e de direitos”, bradaram. Sobrou para todo mundo: para as mães que criam os homens como uma casta a ser servida, para as submissas que não se fazem respeitar, para a educação brasileira que, na opinião delas, fomenta a desigualdade e perpetua a cultura machista, e até para Trump Putin, Feliciano e Ives Gandra, “esses homens da caverna que mandam no mundo como quem conduz uma alcateia”, esbravejaram. À nossa volta, os homens que escutavam a conversa foram saindo de fininho.



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