Perdi três preciosas manhãs de sol tentando resolver o problema de armazenamento do meu celular. Deletei todos as mensagens do whatsApp e nada. Aproveitei que estava de saco cheio do FaceBook e exclui o aplicativo do aparelho. Continuava cheio. A solução talvez fosse apagar meus emails das duas contas que possuo. Do celular não dava para fazer isso. Fui nas contas email do meu PC e - horror dos horrores - tinha milhares de mensagens acumuladas desde janeiro. Tive que olhar cuidadosamente uma a uma, antes de deletá-las. Algumas tive que salvar em pastas separadas, porque vou precisar delas mais tarde.
Isso melhorou bastante o desempenho do meu celular - e o meu também - que agora já deleto imediatamente os e-mails sem importância que recebo e arquivo o que é relevante para não perder mais tempo com essa faxina eletrônica. Bom, faltavam as fotos, também acumuladas desde janeiro. Não queria deletá-las sem editá-las, separar em álbuns, essas coisas que levariam mais uma semana de trabalho. Achei que seria fácil transferir tudo para o aplicativo nuvem do meu computador. Não deu certo. Meu telefone é Apple, meu computador é Windows. Pedi ajuda à assistência técnica da Apple (e o sol rachando lá fora). Consegui fazer a migração ouvindo a voz humana de um tal Ivan. Mas agora tenho que descobrir como visualizar as fotos nas nuvens. Vou esperar chover para me dedicar a isso, que agora está dando praia.
O que denuncia nossa idade não são os cabelos brancos (que os tingimos) nem as rugas (que o botox está cada vez mais acessível) nem a pele flácida (que a musculação faz milagres). É o atraso tecnológico que nos roubará o investimento em “juvenização”, escancarando nossa idade mais do que uma certidão de nascimento escrita à mão.
E não adianta empacar feito burro velho e dizer: não quero, não preciso, já estou fora do mercado de trabalho, isso é alienante, veja a juventude, completamente fora de si teclando o dia todo no celular e blá blá blá, blá blá blá! Só a ranzinice do empacamento já denuncia que nascemos no século passado, lá bem embaixo do formulário eletrônico que procuramos com a seta “pagedown”.
Dá até canseira pensar nos inúmeros “upgrades” que tivemos que fazer em nossa máquina, desde que começamos a enfrentar os desafios tecnológicos que começaram a surgir paulatinamente em nossa juventude. Aprendemos a datilografar em máquinas de escrever manuais, o que nos levou a ser muito rápidos nas elétricas. Mas, logo, tivemos que reaprender tudo nos teclados dos computadores, e quando o mouse ganhou destreza em nossas mãos, vieram os teclados digitais dos “lap tops” e “tablets”. Agora, só precisamos dos polegares para dominar a escrita, e com um celular de última geração o mundo vem a nós mais rápido que o “Google”.
Falando em celular, quem se lembra do Bip? Era um aparelho “revolucionário” usado por médicos, policiais e jornalistas, entre outros escravos do trabalho, nos anos 1980. Ligado a uma central de telefonistas, transmitia recados. Um ancestral do “Messenger”. Com a chegada dos celulares no Brasil, a partir dos anos 1990, a quase natimorta tecnologia soa ridícula. Os primeiros celulares pesavam quase um quilo, e à medida que reduziram de tamanho cresceram em utilidades, tornando obsoletas invenções recentíssimas, como os tais “lap tops” e”tablets”, transformados em simples máquinas de escrever.
Isso para nós, as tartarugas da tecnologia digital, pois já conheci jovens que redigem poesias e romances em seus “Smartphones” e “Iphones”, editam, ilustram e publicam. Isso eu ainda não domino, e devo estar desatualizadíssima com o meu singelo “Iphone 5S”, que me custou um terço da aposentadoria, mas aposentou para sempre a minha câmera fotográfica digital, o Banco, os jornais, os livros de receita, os dicionários, o relógio de parede, o despertador, a calculadora, a folhinha Mariana, a astróloga, o nutricionista, todos os mapas, os guias de turismo e o toca-discos (ou que nome tenha tido essa coisa desde que foi inventada por Thomas Edson, em 1877, até sair do mercado muito recentemente, levando com ele os discos, os CDs, o rádio e até os MP3, 4, 5 e 6).
E ainda resisto: não leio livros eletrônicos nem tenho “E-Readers”, os tais aparelhos que fazem crer que estamos lendo um livro de papel, com marcadores de texto, viradas de páginas, etc...etc...não. Prefiro o cheiro gostoso de um livro impresso à moda de Gutemberg. Também não assisto TV no celular, não jogo “Candy Crush” nem caço “Pokérmon”. Acho que posso passar sem isso, mas entendo cada vez mais que tenho que me adequar a um mundo sem telefone fixo, sem atendente humano em quase todos os serviços públicos e privados, sem talões de cheque ou dinheiro de papel. E mais: desconfio, só pelo tanto de aspas nesse texto, que sem o domínio do inglês não sobreviveremos nesse mundo cuja torre de Babel se endireita pelas mãos milagrosas do Deus Digital.
Ai de nós, velhinhos sarados e charmosos, se não pedirmos ajuda cada vez mais aos nossos sobrinhos e netos para entendermos esse tempo que não para de nos surpreender (ou amedrontar). Por causa dos avanços tecnológicos estou tendo que desenvolver uma virtude: a paciência, que sempre me escasseou. Agora, preciso achá-la dentro de mim para baixar aplicativos, pagar contas, reclamar dos serviços e fazer atualizações, lendo tudo de cabo a rabo, decifrando siglas, setas e sinais, traduzindo termos em inglês e abaixando o tom de voz para não ferir os direitos do infeliz que trabalha nos “Call Centers” de tudo o que existe para nos fazer desistir dos nossos próprios direitos.
Também estou tendo que expandir uma capacidade nata, a curiosidade. É ela que nos tornará cada vez mais íntimos dessa avalanche de novidades, que nos fará melhores ou piores, a depender do uso que fizermos da tecnologia. Eu fico satisfeita em aprender o que não tem mais jeito de não aprender, e de utilizar o que me economiza tempo, dinheiro e espaço, como os aplicativos de música e de serviços. Não vou me viciar, detesto ser dependente de qualquer coisa. Só vou dar uma olhadinha agora no Instagram. Só por hoje, só por hoje.
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