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- 20 de nov. de 2020
- 1 min
O Ogro e o Carrapato Estrela
Ilustração: Ismael Mamedes da Cruz, 25 anos, artista de Belo Horizonte, autista. Numa linda cidade Entre montanhas e mar Morava um Ogro arrogante Que mandava no lugar Era gordo e desalmado Comia tudo que via Arrotava inteligência Porém, nada sabia Nasceu em berço dourado Herdou terras e riqueza Mas vendeu tudo que tinha Por preguiça e avareza Restou um manguezal Onde a Garça já vivia Com Saracura e Uçá Guará, Socó e Cutia O Ogro passou o trator Fez um bairro no lugar Expulsou
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- 20 de nov. de 2020
- 2 min
Melindrosa vintage
Desceu o morro sem tropeçar no salto. As pedras irregulares formavam lisa passarela para a foliã, de pernas longuíssimas e finas, que terminavam numa mini saia branca de franjas e paetês. Releitura “vintage” da moda que nunca sai de moda nos bailes de carnaval: as melindrosas dos anos 30. Começava 2016, o ano em que tudo de ruim se infiltrou pelas frestas da alegria. A fantasia da moça antecipava a confusão que estava por vir: retrógrada e agressiva. Uma mistura do século 20
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- 20 de nov. de 2020
- 1 min
Neura
Com as mãos cruzadas sobre o peito, esperou a morte. Mais perto, mais perto, a cada degrau da escada. Imaginou o assassino chutando a porta do quarto. A faca rasgando seu corpo da garganta ao umbigo. Tripas deslizando sobre o lençol recém-trocado, de algodão egípcio, tão macio! O sangue sujando tudo, fazendo aquela lambança no quarto. Que fim horrível, pensou sem rezar. Paralisado no medo. Disposto a oferecer o pescoço de olhos bem fechados, para não assustar o ladrão e morre
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- 20 de nov. de 2020
- 3 min
Abril despedaçado
Eu não tinha idade para ir à escola quando a Ditadura foi instalada. A notícia chegou no jornal de primeiro de abril, dia da mentira, mas ninguém duvidou. Fez-se silêncio nos bares e a impressão que eu tive é que depois daquele dia o povo começou a falar baixo e a rir menos. Houve gente que soltou foguetes e insultos, e o padre celebrou uma missa para exorcizar de vez a ameaça do comunismo. Falou que os comunistas eram pessoas sem temor a Deus, que pregavam ferraduras nos pés
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- 19 de nov. de 2020
- 3 min
Corto os pulsos ou compro um carro?
- Encoste-se bem reta na cadeira e olhe aqui – falou a moça do serviço de emissão de carteira de identidade, apontando para uma máquina fotográfica mequetrefe, com menos pixel do que o meu celular. Lembrei-me das aulas de yoga, girei os ombros para trás e para baixo, para afastar a orelha do pescoço, como eles dizem, e esbocei um sorrido de Monalisa, lábios fechados. - Não pode rir - disse a moça – e eu pensei: não vai prestar. Foto séria, com luz de tungstênio, sem uma lente
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- 19 de nov. de 2020
- 4 min
Três histórias de mudança e desapego
No “debu” da terceira idade, por volta dos 56, eu me perguntava, pela oitava vez na vida: “Onkotô? Donkovim? Paonkovô”? Isto é uma piada sobre a crise existencial dos mineiros que, traduzindo, é a de toda humanidade, desde sempre: Onde estou? De onde vim? Para onde vou? Essas três questões filosóficas básicas incomodam a todos a cada sete anos, segundo os homeopatas, ou a cada dez, de acordo com a astrologia. Começamos a refletir sobre isso – e a sofrer pela falta de resposta
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- 19 de nov. de 2020
- 4 min
Três histórias de mudança e desapego 2) Queimar o passado
Resumo da semana passada: Estafa, insatisfação e um tempo para balanço. A coragem de chutar o balde Ao voltar da Índia, depois de pedir demissão do meu último emprego, levei três carteiras de trabalho para o INSS analisar meu pedido de aposentadoria. Enquanto esperava a burocracia, resolvi viajar pelo Brasil, procurar um novo lugar para morar. Porque o desejo de mudança era demolidor. Nada que eu tinha construído fazia mais sentido. Brasília não fazia mais sentido. Estava can
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- 19 de nov. de 2020
- 3 min
Três histórias de mudança e desapego 3) Começar de novo
Resumo da semana passada: O roubo dos móveis e a venda da chácara em Brasília, a despedida final da cidade, e um balanço do que tem importância e deve permanecer Dez anos para construir um pequeno paraíso e tudo acaba. A vontade que eu tinha era não construir mais nada, comprar mais nada. Deixar o dinheiro da venda da chácara aplicado para sempre, e viver dos rendimentos. Mas fiquei insegura. Dinheiro na mão é um perigo. Evapora rápido, ao contrário de um imóvel, que tem soli
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- 19 de nov. de 2020
- 4 min
Inventário do envelhecimento
A conversa era sobre preconceito, e minha nova amiga caiçara (muito bonita e 17 anos mais jovem do que eu) saiu-se com a seguinte frase: “...até velhas de olhos verdes como você são vítimas de preconceito!” Hã????? Como assim, basicamente? Preconceito porque sou velha? Ou porque tenho olhos verdes? Ou, porque, apesar dos olhos verdes, não passo de uma velha? Não entendi a relação. Passei a noite com a palavra “velha” retumbando na cabeça. Não havia me dado conta da percepção
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- 19 de nov. de 2020
- 3 min
A companhia dos bichos
Animais de estimação são uma ótima companhia para todas as faixas etárias, dizem as pesquisas. Essenciais para crianças e velhos. Quem os cria sabe da felicidade que é chegar em casa e ser recebido por eles. Já tive inúmeros cães e gatos, e guardo deles carinhosas lembranças. Não sou dessas pessoas que humanizam demais os animais, põe pra dormir na cama, veste roupinha no inverno, entram em depressão quando eles morrem. Acho que eles devem ser amados e respeitados na natureza
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- 19 de nov. de 2020
- 3 min
Desconectada na conexão
Dias desses tive um surto de ausência, daquelas que a gente experimenta quando pega um porre e, na manhã seguinte, não se recorda de nada do que falou ou fez. Foi assim: estava numa aula de canto, com o celular no silencioso, e quando saí resolvi dar uma olhada nas ligações e mensagens recebidas. Tomada por aquela aflição estúpida que os telefones de hoje em dia nos condiciona a ter, comecei a responder uma a uma. A Déa Januzzi estava on line e me ligou, e eu fui andando e co
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- 19 de nov. de 2020
- 3 min
Quando a mãe envelhece
Acabo de fazer um curso intensivo de envelhecimento. Com minha mãe, que veio passar uns dias comigo em Paraty. Há três anos ela esteve aqui, e me acompanhou em trilhas leves, de um a dois quilômetros. Andou pelas pedras do Centro Histórico sem se queixar e, certa noite, achando que eu a enrolava para não acompanhá-la à igreja, marchou sozinha para a Matriz, sem se perder nas ruas tortas da cidade. Encontrei-a sentada no banco da frente, cantando a música de abertura da celebr
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- 19 de nov. de 2020
- 3 min
Vou cantar até o fim
Elza Soares não sobe mais no palco. O palco é que a recebe, solenemente. Cortinas pretas são instaladas para que ela já esteja lá, em sua cadeira de rodas-trono, quando se abrirem para a plateia. Foi assim em Paraty, na quinta edição local do MIMO, o festival de música que nasceu em Olinda, e que percorre anualmente as cidades históricas do Brasil. A voz já é um fio rouco, o requebro acabou, acabaram-se as improvisações rasgadas, os agudos afinados. Sentada no trono, no alto
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- 19 de nov. de 2020
- 2 min
No lado esquerdo do peito
Um amigo muito amado entra hoje na casa dos 50. Escorpião teimoso, determinado a viver e a ser feliz. Se fôssemos irmãos, não seria tão bom. Estamos juntos há quase três décadas. Tivemos inúmeras alegrias e alguns sustos. Choramos juntos, rezamos juntos, nos salvamos em várias ocasiões: da morte, da dor, do desemprego, do desamor, das decepções. Brigamos também, não muito. O suficiente para aprendermos um com o outro e a reforçar ainda mais nossa amizade. Embora mais novo que
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- 19 de nov. de 2020
- 5 min
Velhinhas libidinosas
Velhinhas libidinosassconfio muito de pesquisas. Principalmente as que se referem a comportamentos. Já trabalhei com isso em vários órgãos do governo, como assessora de comunicação, e afirmo, com toda convicção, que elas são encomendadas para referendar uma ideia pré-concebida, e não para fazer uma descoberta. Pesquisas sobre sexualidade, por exemplo, apresentam os resultados mais furados que eu já ouvi na vida. Porque todo mundo mente muito sobre sexo. E mais falam do que fa
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- 19 de nov. de 2020
- 1 min
Sem culpa de envelhecer
O "Dolce far niente" dos velhinhos de Paraty
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- 19 de nov. de 2020
- 4 min
Analfabetismo tecnológico
Perdi três preciosas manhãs de sol tentando resolver o problema de armazenamento do meu celular. Deletei todos as mensagens do whatsApp e nada. Aproveitei que estava de saco cheio do FaceBook e exclui o aplicativo do aparelho. Continuava cheio. A solução talvez fosse apagar meus emails das duas contas que possuo. Do celular não dava para fazer isso. Fui nas contas email do meu PC e - horror dos horrores - tinha milhares de mensagens acumuladas desde janeiro. Tive que olhar cu
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- 19 de nov. de 2020
- 5 min
O Boi de Parintins
O enfrentamento da velhice nessa nova geração de sessentões à qual pertenço caminha em duas direções, pelo que pude constatar até agora: há os românticos e nostálgicos, que se recusam a mudar de profissão/cidade/estilo de vida e tornam-se resmungões e desatualizados. Passam o tempo vangloriando o passado e exibindo fotos antigas no facebook, para provar o quanto foram inteligentes, bonitos e magros. E há os que não estão nem aí para o fato e até são um pouco exibicionistas. A
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- 19 de nov. de 2020
- 3 min
Envelhecer não é para maricas
“Estranho ter sido o que fui sendo o que sou hoje. Parece que sempre tive a idade que tenho agora”, escreve Rita Lee no final de sua autobiografia, primeiro lugar nas paradas de sucesso, como as músicas que compôs e que embalou nossas festinhas desde os anos 1960. Não é uma grande obra literária, mas é uma obra hilária. Rita Lee faz deboche de si mesma o tempo todo e não muda o tom nem quando destila alguns rancores. Perdoa todo mundo e perdoa-se acima de tudo, numa autoanáli
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- 19 de nov. de 2020
- 4 min
Esses moços! pobres moços?
Tento me colocar no papel de um homem nos dias atuais. E sem nenhum machismo ou misoginia, acho que eles estão passando por grandes dificuldades. Que mulheres são essas do século 21? O que elas querem? Como abordá-las? Não está sendo fácil para eles, eu imagino, porque tudo que aprenderam sobre conquista, poder e força, desmorona. Na tentativa de manter os postos de macho-alfa num mundo onde a mulher ocupa cada vez mais espaço, repetem o “modus operandi” de séculos: pirraça,
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